segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O BRASIL NORDESTINO

Nestes últimos seis anos está acontecendo um fenômeno migratório interno que merece ser analisado. Durante muito tempo, principalmente na metade do século vinte, a imigração nordestina para os centros urbanos do sul desenvolvido transformou-se num fluxo constante. No entanto, os chamados “paus-de-arara” que transitavam o sertão nordestino rumo a São Paulo, estão começando a mudar essa paisagem exatamente ao inverso. É o que revela a recente pesquisa do Departamento de Economia da Universidade de Paraíba – UFPB. Entre 2002 e 2007, houve um fluxo de mais de 400 mil pessoas nessa direção, que mostra que das 862 mil pessoas que foram morar no nordeste, 47,5% eram indivíduos que estavam voltando a seus locais de nascimento. Por outro lado, apesar de que o retorno acontece, frequentemente, por falta de oportunidades em função da saturação das fronteiras agrícolas ou construção civil, pode-se dizer que existem outros fatores regionais que são determinantes nesse processo de migração interna em direção ao nordeste brasileiro.
A razão fundamental encontra-se no crescimento acentuado dessa região em relação às demais, provocando uma vigorosa urbanização com 70% da população nas cidades. Desse modo, a migração rural passa pelas pequenas localidades e vai diretamente para as grandes. Tal fenômeno se expressa na opção da escolha de uma capital nordestina no lugar de São Paulo. Ainda assim, existem outros condicionantes importantes que merecem ser destacados, que são as melhorias substanciais das condições sociais no nordeste experimentado nestes últimos anos. Mais da metade das famílias pobres recebem algum tipo de benefício federal, tanto da Previdência Social como do Bolsa Família, o que funciona como um mecanismo de contenção da miséria. Segundo a pesquisa, das 14,5 milhões de famílias nordestinas, sete milhões recebem da Previdência e 5,6 milhões do Bolsa Família. Além disso, o salário mínimo que contempla dois terços dos assalariados da região, tem um forte impacto nas atividades econômicas, que redundam num processo vigoroso de inclusão social.
Todos esses componentes, aliados ao surgimento de novos pólos de desenvolvimento, fazem com que as pessoas terminem fortalecendo seus vínculos com a região, no qual o campo da ciência e a tecnologia se encontram em pleno processo de crescimento, com destaque para cidades nordestinas que recebem reconhecimento nacional e internacional pelos seus institutos tecnológicos avançados. Temos o caso de Recife, que possui um pólo de desenvolvimento de softwares, transformado numa referência mundial e reconhecido como o maior parque tecnológico do Brasil, tanto em faturamento como números de empresas abrigadas nesse complexo. Vale destacar Campina Grande, no interior da Paraíba, como uma das cidades que incorporaram um modelo de centro de inovação tecnológica, resultado do fortalecimento da formação acadêmica por meio da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, com destaque nas áreas de engenharia elétrica e computação. Por outro lado, cabe citar o Centro de Biotecnologia e Terapia Celular do Hospital São Rafael, em Salvador, que é o mais moderno e avançado centro de estudos de células-tronco da América Latina, junto com o centro de pesquisa e desenvolvimento da neurociência em Macaíba no Estado de Rio Grande do Norte. Alguém poderia duvidar da capacidade dos nossos irmãos nordestinos?
Victor Alberto Danich
Sociólogo