quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

IMPRENSA ALTERNATIVA “PASSA O CHAPÉU” PARA SOBREVIVER

O sucesso do livro “Privataria Tucana” é um bom exemplo de como a imprensa encobre os assuntos que não dizem respeito a seus interesses políticos e econômicos. O livro não entrou nem nos editoriais nem na lista dos mais vendidos da Veja ou O Globo, só para dar dois exemplos.
Por Christiane Marcondes*
Redação do Democracy Now
Na verdade, ele foi varrido do mapa da imprensa hegemônica. Até o limite do possível, claro, até o ponto em que essa “pedra no sapato” incomodou tanto que teve de ser retirada e exposta à demanda e curiosidade pública. O ano de 2011 foi significativo na quantidade de episódios omitidos pela imprensa. Talvez por ter sido um ano de manifestações espontâneas, de massa, pelas mais diversas causas e em variados e distantes locais do mundo. A mobilização não cabia no enquadramento tradicional da mídia conservadora, por isso ficou fora das lentes do seu noticiário. Mas não distante do conhecimento do leitor, graças à atuação energizada da chamada mídia livre, fosse digital, eletrônica ou impressa. “Ocupar Wall Street” foi um ato que dividiu épocas nesses 12 meses que terminam no próximo dia 31. Amplamente coberto por emissoras de televisão alternativas, as imagens correram o mundo e mostraram a dimensão do movimento, que foi exportado para outras regiões dos Estados Unidos e para outros países. Fez mais: deu luz a outras expressões populares, como a marcha dos indignados na Europa. “Ocupar” virou um comando de guerrilha, usado para dar visibilidade à causa, para congregar mais manifestantes, para tomar conta de um lugar que, legitimamente, é do cidadão, “o espaço público”. Wall Street foi abalada pelas reivindicações e atos populares, simbolicamente, o coração econômico do mundo precisou, no mínimo, de uma ponte de safena para recuperar parte da saúde. Até hoje combalida e sem previsão de alta “médica”.
O acesso às informações livres e críticas, no entanto, também entrou em crise, porque toda produção de conteúdo exige recursos financeiros que a banquem. E esses recursos, seguramente, estão nas mãos daqueles que são alvo das críticas da imprensa alternativa.
Se você navegar na rede em busca de portais de notícias que contemplam a verdade ou, pelo menos, se pautam por correntes da esquerda, vai ser recebido logo à entrada de alguns deles com uma mensagem como a abaixo, no Democracy Now:
“Você pode ter certeza de que a nossa cobertura não é paga pelos fabricantes de armas, pelas grandes indústrias farmacêuticas ou as companhias de petróleo, gás e carvão. Precisamos da sua ajuda hoje. Nós só podemos fazer isso (cobrir eventos no mundo inteiro) com a sua ajuda. A sua contribuição de impostos para Democracy Now! hoje é um investimento em jornalismo investigativo verdadeiro” Na página inicial do WikiLeaks, há mais do que um pedido, há denúncia: “Fomos forçados a temporariamente parar de publicar documentos enquanto garantimos nossa sobrevivência financeira. Não podemos permitir que corporações financeiras americanas decidam como todo o mundo deve usar seu dinheiro para votar através de doações. Nossas batalhas são caras. E nós precisamos do seu apoio para vencer essa guerra. Doe agora para o WikiLeaks.” A boa notícia é que o Brasil está atento a essa necessidade e acaba de chegar à pauta do Congresso a proposta de financiamento de mídias alternativas.
Na véspera das férias parlamentares, comissão cria grupo de deputados para discutir formas de sustentação financeira de rádios comunitárias, blogs e portais na internet. Iniciativa é de deputada do PCdoB, Luciana Santos (PE), partido que sofreu com denúncias de desvio ético disparadas pela imprensa tradicional. Denúncias indevidas que já foram desmentidas, importante informar.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O EMBLEMA DO CHE


Perante certas manifestações com relação às medidas adotadas pelo governo para estimular a economia, de modo a salvaguardar o país da crise global, principalmente aquelas que tratam tais iniciativas como inescrupulosas, argumentando que o incentivo ao crédito pode ser caracterizado como um “banditismo contra os que não pensam”, parece-me uma crítica carregada de preconceitos na direção dos setores mais pobres da sociedade. Omite-se, nesse caso, que desde 2007, por causa do crescimento da economia nos moldes citados, a multiplicação dos milionários no Brasil se expande à razão de 19 por dia. Tal fato é resultado do crescimento do Produto Bruto Interno (PIB) e das taxas de consumo, que se estende a toda população. A pergunta seria: Por que os ricos podem ter acesso ao consumo e os pobres não? É errado diminuir os impostos para desonerar os produtos? Não era isso que a população reivindicava? Vou esgrimir uma resposta: a economia política não é uma ciência neutra, seus postulados teóricos, prognósticos e receitas são fortemente influenciados pelos interesses de classe. O que orienta certos comentários não é a ciência econômica, e sim juízos de valor que criminalizam ações distributivas. Esses dias, um grande amigo meu, mas dialeticamente opositor, me perguntou em tom de gozação por que colei o emblema do Che Guevara na caçamba da minha camionete. Na verdade, o que deveria questionar seria minha origem burguesa igualzinha ao Che. Nesse caso, farei a justificativa sem conotação acadêmica. Será feita através de uma pequena história, sem recorrer aos “clichês” de autoajuda, bem longe da minha praia, e que todo bom entendedor poderá interpretar.   
Uma senhora de classe média alta, professora universitária com pós-doutorado em História, estava aguardando o próximo vôo para Curitiba no aeroporto de São Paulo. Nesse intervalo comprou um pacote de bolachas para saborear na espera. Próximo dela sentou-se um rapaz de mochila e bem vestido, com uma camiseta que tinha o emblema do Che Guevara. Num momento determinado, o garoto abriu o pacote e pegou uma bolacha para comer. A professora indignada observou-o atônita – Olha que desfaçatez – pensou – como é possível uma coisa dessas. Como pessoa acostumada à discrição condizente à sua classe social, usou a alternativa de também pegar do pacote uma bolacha para comer, sem questionar a atitude de seu ocasional acompanhante. Uma situação engraçada, por sinal. Sentados lado a lado, sem olhar-se e compartilhando as guloseimas. É claro que o desconforto maior era da professora. Mas, nessa altura, fazer o que? E assim foi até o final.
Pela regra matemática a última bolacha corresponderia ao rapaz descontraído. Foi assim que ele pegou a bolacha, a dividiu ao meio, deixou exatamente a metade no pacote e foi embora alegremente. Claro que a professora ignorou a gentileza. Mas teria uma história bastante extravagante para contar a seus colegas da universidade. Quando chegou a hora de embarcar, a professora encarou a fila rumo ao avião. Caminhou pelo corredor até localizar seu assento. Abriu o bagageiro e, quando tentou colocar a bolsa no mesmo, caíram seus pertences, entre eles o pacote de bolacha intacto que tinha comprado no Café do aeroporto.
Victor Alberto Danich
 Sociólogo