quarta-feira, 27 de julho de 2011

O VIGOR CRIATIVO DE AMÉRICA LATINA

Em 09/05/2007 a revista Veja, com sua soberba característica, publicou um artigo intitulado “O retorno do idiota”, escrito por Álvaro Vargas Llosa, diretor do “Centro para a Prosperidade Global”, no qual fazia uma análise das políticas adotadas por alguns países da região, que explicitamente se confrontavam com as ideias da onda neoliberal vigente na época. Tal artigo tinha como objetivo ridicularizar as iniciativas econômicas dos governantes locais, dedicados, segundo o texto, a criar empecilhos com “métodos ineficazes adotados pelas novas gerações de revolucionários”, que surgiram com promessas populistas para sabotar um projeto assentado na prosperidade e oportunidade para todos. Vargas Llosa finaliza sua análise fajuta criminalizando tais iniciativas, explicando que tal comportamento era resultado do “ego fraco dos nossos povos” “profundamente ressentidos” por não ter acesso à mobilidade social. A realidade recente desmente categoricamente tal argumento, para sorte desta América Latina sofrida e humilhada durante tanto tempo.
O articulista citado reside nos Estados Unidos, e seguramente deve-se sentir incomodado com os cerca de 14 milhões de norte-americanos desempregados, cifra que eleva para 9,1% o total de trabalhadores naquela situação no país, resultado da fraca criação de postos de trabalho por parte do setor privado. No setor público, ao mesmo tempo, foram despedidos desde 2008 cerca de 446 mil funcionários, sobretudo na Educação, além de outros 28 mil trabalhadores estatais e municipais exonerados nestes últimos meses. Junta-se ao desemprego generalizado, o flagelo das pobreza extrema, que atingiu seu auge na cidade de Nova York, que já conta com 1,4 milhões de famintos – dos quais 40% são crianças – conforme revela a Coligação Contra a Fome daquela cidade. Vale ressaltar que o índice de pobreza entre os nova-iorquinos cresceu 14,2 e 15,8% em 2008 e 2009 respectivamente. Imagino em que situação psicológica encontra-se o ego destes indivíduos, sempre confiantes na retórica neoliberal.
Por outro lado, no momento em que escrevo, as frentes de trabalho se espalham por todos os países latinoamericanos. A Organização Internacional do Trabalho – OIT, e a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe - CEPAL, indicam uma forte recuperação econômica da nossa região. Tal constatação pode ser verificada na significativa queda na taxa de desemprego urbano, situada nos 7,3%, o que a transformou no índice mais baixo dos últimos 20 anos. A “nova geração de revolucionários” – epíteto burlesco usado por Vargas Llosa – delinearam vigorosas políticas anticíclicas que permitiram enfrentar a crise financeira internacional de 2008/2009, e que foram decisivas para a redução da vulnerabilidade e a posterior recuperação econômica. Tal iniciativa teve reflexos positivos na oferta de empregos e aumento da renda, concretizando-se num aumento médio de 6% no Brasil, Uruguai, Chile e Nicarágua, e a um nível entre 3% e 5% na Costa Rica, no México, Panamá e Peru. O presidente Obama deveria enviar seus economistas a fazerem um curso intensivo nas melhores universidades de América Latina. Quem sabe assim aprendem.
Victor Alberto Danich
Sociólogo

Nenhum comentário:

Postar um comentário