quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

EDUCAÇÃO E MOBILIDADE SOCIAL

Recentemente, o exame do Enem foi noticiado com grande estardalhaço por causa dos problemas ocasionados na confecção dos gabaritos. A gráfica contratada produziu 10 milhões de provas, na qual houve um lote de 20 mil que saíram com erros de impressão. Nesse caso, o governo, depois de identificar os participantes prejudicados, fará uma nova prova através do método TRI, que permite aplicar os testes em dias diferentes com o mesmo grau de dificuldade. Resulta evidente que isso tornou-se um contratempo, mas é uma medida que evitará maiores gastos na aplicação da prova, sem prejudicar aqueles que deverão entrar nas universidades conforme o calendário estipulado. Por outro lado, a atenção centrada nos problemas do Enem, deixou passar despercebida a importante notícia com referência ao aumento de estudantes de baixa renda nos cursos universitários. A pesquisa do Data Popular, que é um instituto especializado em mercado emergente no Brasil, divulga que, pela primeira vez na década, jovens de baixa renda são maioria nas universidades. Este novo contingente de jovens que representa 73% dos universitários, fazem parte da primeira geração de suas famílias a conquistar um diploma de nível superior.
A pesquisa revela que os estudantes da classe D, originários de famílias que ganham menos de três salários mínimos ultrapassaram os filhos dos setores mais privilegiados da pirâmide social. A mágica desse resultado encontra-se no Programa Universidade para Todos – ProUni, que já atendeu nestes últimos seis anos a 747 mil estudantes de baixa renda. No período de 2002 a 2009, todas as faculdades, tanto públicas como privadas, já contabilizaram o atendimento de 700 mil estudantes da classe D, numa média de 100 mil jovens por ano. Resulta interessante destacar que oito anos atrás esta classe ocupava apenas 5% da totalidade das vagas nas universidades. Na atualidade, pelo contrário, eles representam 15,3%, enquanto os da classe A diminuíram de 24,6% para 7,3% durante o ano de 2009.
O estudo mostra também que entre 2002 e 2009, o número de estudantes universitários no Brasil aumentou de 3,6 milhões para 5,8 milhões, que representa um avanço de 57% na totalidade desse universo educacional. Nesse contexto, as classes A e B detêm 26,3% das vagas nas universidades, enquanto os estudantes das classes C, D e E representam 73,7% desse total. Por outro lado, o acesso à universidade representa para esses jovens um investimento muito pesado, mas que oferece a possibilidade de mudar de vida e ascender socialmente. No entanto, existe uma contrapartida por parte de empresas que realizam parcerias com o Centro de Integração Empresa Escola – CIEE, oferecendo uma ampla rede de apoio através de programas de bolsas em faculdades privadas. Tal iniciativa inclui o governo na sua principal vitrine da política educacional, aquela que permite que estudantes carentes estudem em instituições de ensino superior privadas com bolsa integral ou parcial, usando como contrapartida a isenção de tributos. Para finalizar, e retornando ao caso do Enem, é preciso entender que, apesar de suas falhas circunstanciais, este processo, mais do que uma avaliação do ensino médio, representa um mecanismo institucional de estímulo ao estudo, além de constituir-se numa extensa política de inclusão social. É possível que aquelas pessoas que sempre estão prestes a ridicularizar ou desmerecer qualquer ação governamental, não percebam que por trás de falhas humanas, sempre há uma nova oportunidade para refazer as coisas de modo correto. Nada melhor do que as palavras do Prof. João Monlevade, consultor do Senado Federal, ao dizer que o “Enem representa a transição da loteria dos vestibulares para a realização do preceito constitucional: a educação superior é um direito de todos, segundo a capacidade de cada um, e serve ao mesmo tempo para aperfeiçoar seus mecanismos avaliativos, com o aproveitamento democrático de todos os talentos”
Victor Alberto Danich
Sociólogo

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