segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

PARABÉNS BOLÍVIA

O presidente Evo Morales e seu partido Movimento ao Socialismo é o grande vencedor nas eleições da Bolívia. Com mais de 62% dos votos, o MAS liquidou seus principais adversários num pleito acompanhado com atenção pela imprensa internacional. Na sua reeleição, Morales disputou contra três candidatos de oposição que, juntos, obtiveram menos de 40% dos votos do povo boliviano. O que está acontecendo de bom nesse país pequeno e pobre? Qual é o segredo da magistral popularidade do seu presidente?
Em quatro anos de governo, apesar da oposição dos setores mais reacionários da sociedade, Evo Morales e sua equipe econômica conseguiram duplicar o Produto Interno Bruto do país, registrando cifras macroeconômicas importantes, principalmente através da estatização da indústria dos hidrocarbonetos e de políticas públicas de inserção social. A obtenção de um PIB de US$ 19 bilhões, após a cifra de US$ 9 bilhões em 2005, e um nível de reservas internacionais próximo a 50% do PIB, além de uma inflação controlada e um câmbio estável, foram resultado de um modelo centrado em premissas anti-neoliberais. Parece mentira, mas o FMI teve que reconhecer a contragosto a política econômica da Bolívia, como um exemplo de prudência e equilíbrio. Tal elogio pode ser traduzido através das políticas sociais destinadas a atender demandas diretas dos setores mais humildes da sociedade, na qual se investiram mais de 300 milhões de dólares anuais, com benefício direto para mais de 25% de uma população de 10 milhões de habitantes. Tal configuração significa acabar com o capitalismo? A resposta vem da própria equipe do presidente reeleito: “Há, em primeiro lugar, um espaço capitalista que precisa ser reforçado” – explicam – “A diferença é que agora busca-se mudar certas características, a cabeça não é o investimento estrangeiro, senão o Estado produtivo”
Isso significa que, no imaginário político boliviano, o capitalismo do desastre, endógamo e especulativo, deve ser extirpado de vez. Um capitalismo produtivo que aceita uma diversidade de atores econômicos, tanto do setor empresarial tradicional como daquele que emerge do mundo popular indígena, podem ser a clave para novas formas de geração de riqueza. As forças comunitárias tradicionais, fragmentadas, golpeadas e dispersas, como resultado de tantos anos de exploração colonial, possuem no seu interior uma potencialidade pós- capitalista, no qual o 90% da economia camponesa é do tipo familiar-comunitária. Tal é o projeto que está sendo potencializado pelo governo reeleito. Os leitores que se informam apenas através da revista Veja (pasquim pseudo-intelectual, entre os íntimos), seguramente estarão apreensivos perante tamanho desenlace político. O perigo da visão fragmentada da realidade reside em mostrá-la conforme a alegoria da “Caverna de Platão”. Sugiro, como sociólogo, que utilizem outras leituras alternativas. Faz bem ao conhecimento e a saúde.
Victor Alberto Danich - Sociólogo

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