sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O LABORATÓRIO DA MISÉRIA

O golpe militar em Honduras contra um presidente eleito constitucionalmente, não é resultado de um acontecimento casual, e sim de um processo histórico de amplas conseqüências na história de América Central. Nos últimos anos do século 19, um bandido de nome William Walker, ao serviço dos banqueiros Morgan e Garrison, comandando uma quadrilha de delinqüentes, invadiu, durante sucessivos ataques, a Nicarágua, El Salvador e Honduras. Com o apoio claro do governo dos Estados Unidos, ocupou os territórios para oficializar o famoso e tão sonhado quintal americano. Em 1912, arrematando a odisséia, o presidente estadunidense William H. Taft declarava: “Chegou o dia em que a bandeira de listras e estrelas marcará a extensão do nosso território, uma no Pólo Norte, outra no Canal de Panamá, e outra no Pólo Sul” – e continuava – “Todo o hemisfério será nosso, de fato, como, em virtude de nossa superioridade racial, já é nosso moralmente”. Na mesma época, o ex-presidente Teddy Roosevelt se vangloriava de ter inventado o Panamá, obrigando a Colômbia a perder parte de seu território, ao preço de uma indenização vergonhosa.
Os “marines” desembarcavam por todos os territórios para “proteger a vida e os interesses dos cidadãos norte-americanos”, que era a justificativa para que as empresas se apoderassem integralmente dos patrimônios públicos desses pobres países centro-americanos. As repetitivas expedições serviram para consolidar os grandes negócios dos banqueiros de Wall Street, ajudando a submeter à Nicarágua aos interesses do banco Brown Brothers. A invasão da República Dominicana, em 1965, foi para defender os interesses da United Fruit, famosa por ter transformado em repúblicas bananeiras a Guatemala (invadida em 1954, ao mando de Foster Dulles), Honduras, Costa Rica, Panamá, Colômbia e Equador. Toda uma conquista do capitalismo norte-americano feito a tiros de fusil. As grandes famílias donas de latifúndios, assim como os ditadores de opereta, escolhidos a dedo pelos grandes bancos, sempre foram os beneficiários locais das políticas impostas pelas grandes corporações. Nunca as bombas dos invasores norte-americanos conseguiram vencer os camponeses de Augusto César Sandino, que obrigou estes a assinarem um tratado de paz na Nicarágua. O herói sandinista durou pouco tempo. Foi assassinado por Anastácio Somoza, ao mando do embaixador norte-americano Arthur Bliss Lane. A tarefa estava cumprida. Os ditadores centro-americanos podiam respirar tranqüilos para usufruir as benesses do império. Não é de estranhar que os movimentos populares atuais, conduzidos por líderes carismáticos e polêmicos, criminalizados sem parar pela mídia conservadora, sejam resultado da luta por recuperar as riquezas perdidas. Neste laboratório da miséria, fica muito claro quem são os verdadeiros culpáveis deste desenlace histórico.
Victor Alberto Danich - Sociólogo

LUCRANDO COM A VIDA HUMANA

O Presidente norte-americano Barak Obama quer criar um sistema público de saúde no seu país, de modo a incorporar neste programa 50 milhões de cidadãos que carecem de qualquer tipo de atendimento médico. Tal notícia passaria despercebida se não fosse que tal proposta ocorre no país mais rico do mundo. Sinto compaixão pelo pobre presidente. Ele é um verdadeiro Quixote, assim como foi a Hillary Clinton na época em que era primeira dama do governo do democrata Bill Clinton. Quando a charmosa mulher do presidente iniciou a campanha para implantar um serviço universal e gratuito de saúde no seu país, as grandes corporações de Planos de Saúde, assim como os congressistas republicanos, a atacaram acusando-a de comunista. Medicina socializada, o que é isso? – diziam – estão atacando nossa liberdade de escolha para atender a quem quisermos. Desesperados, questionavam que o país ia rumo ao comunismo. Podem imaginar o que aconteceu com a nossa heroína. Foi confinada a cantar musiquinhas para crianças democratas, posando candidamente ao lado do presidente, e proibida de sugerir ideias descabeladas. Os Planos de Saúde privados foram criados durante o governo de Richard Nixon, e homologados como entidades majestosamente lucrativas por um de seus sucessores ideológicos, John W. Bush. Sim, esse mesmo. Durante seu governo, premiou alguns congressistas que lhe ajudaram a aprovar uma lei para venda de remédios aos idosos, armadilha muito bem feita para os laboratórios ganharem muito dinheiro. Quando a lei foi sancionada, alguns dos congressistas renunciaram para ocupar altos cargos executivos nas empresas farmacêuticas. Lindo não?
Se lembram do 11 de setembro? Existiram muitos heróis voluntários que trabalharam no marco zero, ajudando a resgatar sobreviventes no meio dos escombros das torres gêmeas. Houve uma grande festa em agradecimento aos trabalhos realizados. Muitos deles ficaram doentes por causa da poeira contaminada. Nunca foram tratados nem atendidos pelo governo.
Foi quando o cineasta Michael Moore descobriu que na Base norteamericana de Guantânamo, em Cuba, os terroristas presos do Al Qaeda eram tratados com os serviços médicos mais sofisticados. Não pensou duas vezes. Pegou três navios e levou os heróis doentes do 11 de setembro para serem tratados naquela base, com o intuito de apenas pleitear as mesmas regalias que os terroristas recebem. Imaginem o que aconteceu, foram expulsos. Que tragédia. Bom, nem tanto. Como estavam em Cuba, se dirigiram ao Hospital da Havana, no qual foram atendidos integralmente em todas suas doenças, e o que é melhor, gratuitamente. Ganharam até os remédios de graça. Isso me faz lembrar que os canadenses preferem visitar Venezuela, apesar da escassez de livros, do que ficar doentes nos Estados Unidos de Norteamérica.
Victor Alberto Danich - Sociólogo

A TERRA E OS FILÓSOFOS

Imaginar que a Terra é uma esfera já tinha sido cogitado pelos gregos muito antes do nascimento de Cristo. Tal ideia ganhou ampla aceitação entre os filósofos, na medida em que estes observavam como os navios desapareciam gradualmente ao afastar-se da costa. Tal verificação só fazia sentido se a superfície do mar se curvasse, num mergulho além do horizonte. Nesse caso, diziam, se o mar tivesse uma superfície curva, seguramente a Terra também seria esférica. Tal suposição era resultado da observação dos eclipses da Lua, no exato momento em que a Terra projeta sua sombra em forma de disco sobre a superfície daquela. Por outro lado, todos podiam observar que a própria Lua era redonda, o que sugere que tal formato seria a característica natural de todos os corpos celestes.
Hoje em dia tudo parece muito simples por causa das descobertas astronômicas. Porém, num mundo no qual a filosofia estava emaranhada com mitos e crenças religiosas, tais ideias entravam no campo do incompreensível. Os escritos do historiador grego Heródoto, que descrevia na suas viagens a existência de pessoas que dormiam durante metade de um ano, fazia surgir o interrogante de que a Terra era iluminada de modo diferente, de acordo com suas latitudes. Entretanto, uma Terra esférica incomodava profundamente os filósofos. O que impedia que as pessoas do hemisfério Sul caíssem no espaço infinito? A resposta dos gregos para esse enigma estava assentada na ideia de que o universo tinha um centro. A posição da Terra coincidiria com tal “centro universal hipotético”, no qual a Terra ocupava uma posição estática, de modo que tudo sobre sua superfície seria puxado na direção do centro da mesma. Nesse caso, mesmo vivendo lá embaixo, os gregos ficariam presos ao chão por causa de tal força centralizadora. O que dizer sobre a Terra estática, então? Bom, sendo assim, os gregos imaginavam que se a Terra se movesse, as pessoas sentiriam o vento soprar constantemente contra elas, além de serem derrubadas quando o solo se movimentasse sob seus pés. Daí a conclusão de que a Terra só poderia ser estática.
Para que os leitores não fiquem mais confusos, vou dizer que hoje em dia todos sabem que o nosso planeta se move. O motivo pelo qual não percebemos tal dinâmica, assim como sua fantástica velocidade através do espaço, é que tudo na Terra se movimenta com ela, inclusive a gente, o solo e a atmosfera que nos rodeia. Os filósofos gregos nunca conseguiram compreender tal argumento. Muito tempo depois, com Newton e Einstein o problema foi resolvido. A descoberta da ação gravitacional e o conceito de “paralaxe estelar” resolveram o grande enigma dos filósofos da antiguidade. Hoje temos outro problema. Apesar de que o modelo do Big Bang é uma descrição coerente do nosso universo, tal construção se encontra no campo da incerteza, que nos cria o desconforto de perguntar: O que havia antes dele?
Victor Alberto Danich - Sociólogo