sexta-feira, 22 de maio de 2009

SÍMBOLOS E CARROS

Quando era criança, sonhava em ter um carro para desmontá-lo inteiro. Fantasiava com possuir os melhores automóveis e, como não podia, os desenhava para logo fabricá-los com epóxi em pequena escala. Quando fui ficando adulto, comecei a descobrir o significado dos símbolos, e assim perdi o que restava da minha inocência. Atualmente, todo estilo de vida está pautado em sistemas de status com forte apelo à mobilidade social, de modo a colocar os símbolos numa perspectiva adequada para todos. Nesse caso, a aquisição de um automóvel é considerada crucial para viver a possibilidade da posse de um símbolo. O carro, como símbolo de status social ou elemento de consumo, cumpre a função onírica de criar, tanto para os adultos como para os adolescentes, um novo mundo sustentado na percepção de um sujeito sem limitações. Este é o entrave psicológico mais difícil de superar para organizar o mundo automobilístico. Do ponto de vista psicanalítico, a mais significativa função do automóvel é expressar poder e agressividade. Leva o sujeito a idéia da supremacia sobre os outros, num processo de subestimação inconsciente por aqueles que não fazem parte desse imaginário. Deve-se lembrar com isto, a eterna luta entre automobilistas, motociclistas e pedestres.
A razão principal das atitudes de desdém e subestimação é o que se constitui no símbolo de status mais específico e transcendental da sociedade contemporânea. A qualidade expressa na divulgação das características de beleza e potência dos carros atuais, dizem às claras os componentes de agressividade e poder que o veículo transmite para o sujeito. A velocidade, o acelerador, os cavalos de força, as estradas, permitem descarregar os impulsos agressivos, os sentimentos de fuga, que significam poder circular sem obstáculos e sem limitações.
Os novos automóveis conseguiram levar estes instintos até a perfeição. Lograram alcançar altas velocidades, dando a sensação de superação dos limites, apesar de que na maioria das estradas não é permitido mais do que 110 km por hora. Nesse caso, a satisfação torna-se mais onírica que real, no sentido de saber que existe a possibilidade de exceder-se enquanto se estiver livre de punições. O carro novo gratifica o Eu com uma forte dose de dominação. Um carro de muitos cavalos de força dá ao condutor maior potência e masculinidade. A “potência mecânica” é incorporada na personalidade do sujeito, que se insinua através da necessidade de experimentar o poder de um mundo sem regras nem limitações. Resulta constrangedor perceber que somos submetidos inconscientemente aos desejos dos instintos, negligenciado, dessa forma, a lógica do coletivo em favor do logro individual.
Victor Alberto Danich
Sociólogo

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