quinta-feira, 2 de outubro de 2008

OS PALPITEIROS

O presidente Lula resumiu de maneira genial os acontecimentos recentes na economia mundial. Com sua capacidade didática invejável analisou a crise de maneira cáustica e direta, ao dizer que via com tristeza a quebra de bancos americanos importantes que, incontinentes, passaram a vida dando palpites sobre o Brasil, medindo o “risco país” de forma aleatória e aconselhando os investidores a duvidar das políticas do governo. Confesso que me sinto gratificado com o discurso do presidente, já que confirmou um fato de natureza econômica abordado em meus artigos, questionando o modelo neoliberal, muito a contragosto dos defensores da globalização econômica.
Mas para isso é necessário entender que a volatilização das ilusões que estimularam as fantasias de tal globalização, centrada na prosperidade ilimitada dos Estados Unidos, terminou por mostrar a verdadeira cara de um modelo em que todos os agentes econômicos dependem do mercado, nos quais os requisitos da competição e a maximização do lucro são colocados como regras fundamentais da vida e do progresso. Essa configuração se reproduz em crises econômicas cíclicas, que afetam o grosso do trabalho da sociedade, violentando a geração das riquezas produtivas através da livre circulação do capital especulativo no mundo. Ou pior, transformando o sistema financeiro, como afirmou nosso presidente “num cassino no qual os especuladores perderam na roleta” sem se preocupar pelo alto preço que a sociedade paga por tal irresponsabilidade. Felizmente, o Brasil tem uma blindagem de 207 bilhões de dólares que serve como mecanismo para amenizar uma possível crise local. É bom lembrar que isso é resultado da capacidade do governo de ter zerado quase que totalmente a dívida externa, antecipando desse modo qualquer ataque especulativo. Tal medida foi posta em prática sem recorrer às privatizações, sem sacrificar o emprego e a renda do trabalhador e, fundamentalmente, sem hipotecar o crescimento econômico do país que, diga-se de passagem, foi feito na mais ampla e exitosa política keynesiana que qualquer nação latino-americana tenha realizado até o presente.
Moral da história? Mais uma vez o Brasil dá exemplos de sucesso para o mundo capitalista. Nos melhores moldes do planejamento estatal, o chefe do Comitê de Bancos do Congresso dos Estados Unidos quer criar uma versão moderna de uma instituição da era da depressão dos anos 30. Quem poderia imaginar! Na catedral do laissez-faire: Wall Street e Washington, chegou-se a considerar a hipótese de uma estatização dos bancos em dificuldades. Existe tanta confusão na terra do Tio Sam, que talvez haja necessidade de convocar o presidente Lula para dar uma assessoria de graça aos consultores do norte “desenvolvido”.
Victor Alberto Danich - Sociólogo

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